quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A cuidadosa definição do acaso (Parte IV)

*
Por Germano Xavier

para ler ao som de I Follow Rivers, da Lykke Li


Eu te esperei por longos anos. Venho adotando cada uma de suas palavras e frases e períodos e analisando e lendo e relendo e pondo tudo em caixa dentro de mim que sei o que é bom e de verdade. Eu penso que essa composição que estamos a criar – estamos? – ainda vai virar um turbilhão de momentos férteis. Cá para nós, mas a gente parece a própria eternidade. Doido, eu? Pingue-pongue e os corações são acarinhados em cada sopapo de voz-alma que vem vindo. Tome nota aí: eu existo, sim – você existe? – sou de carne e osso e palavras e moro nem tão muito longe assim, apenas algumas horinhas desclassificáveis.

Tenho vontade dos lençóis também, e é lá que vamos começar tudo. Mas ao que me parece, venho morando também num coração. Tem outra não, és tu. A minha. Por favor, passe-me sua identidade por completo. É da alfândega dos sentimentos. Claro, é bom toda espécie de conhecimento. Teu pressentimento é um sentimento exato, adorável. Imito-te, pois: minha. Aliás, que tanta repetição assim de nós para nós? Será que isso tem nome? Se eu te puxo para dançar você me dá colo, se te quero colo você me puxa para dançar. Vai ver é aquele tal do A... vai ver. Vamos? Topas? Quer correr mundo comigo? Estou falando sério. Só basta tentar, querer. 

Vai ver não, o certo é que estou aqui. Dê um sinal quando chegar. Preocupo-me com você. Quem é você para mim? É que eu preciso me situar no que está acontecendo. Preciso? É aquela coisa do risco. Eu te apeteço, tu me apeteces, conjugue comigo! Continue... nós nos... danou-se. Parece que é aquele negócio torto que nasce na gente quando a gente olha para o mar dos olhos de outra pessoa e vê o fundo do mar com seus cardumes. Além-mar, não é? Lembra do começo de tudo? Do fim e do recomeço de tudo? Além-mar. Aquela azulidão de permanecer. Estou no teu colo. Um beijo? Quero. Quero você. É sério. Daria tudo para estar aí, dentro de você, literalmente, amadamente, agora mesmo. 

Você fala de névoa, de escuridão, eu falo de claridade, supernova, bum-bum, explosão. Não somos claridades poucas, imagino. O baque é dos grandes. Tudo que te digo é elogioso e não tenho medo. Vai na cara tua mesmo em forma de elipses, zeugmas, metáforas e eufemismos. Penso que poesia também é uma forma de amar. E já te amo, je t’aime, I love you e o escambáu. É assim que se escreve escambáu? Tem acento a palavra? Não importa, importante é que você já existe, quis dizer, no peito meu, mora, reside, a aranha de minha teia. 

Você é rara e eu sou um acumulador de relíquias. Como você não há no mercado, nem nos velhos armazéns, tudo boneca de plástico, sem graça, com falas repetidas. Por isso um achado, você. Sortudo, eu. Que faço senão te chamar para correr risco comigo? É amor, amor! Não sou louco de te perder. Já que começamos essa brincadeirinha séria demais, que tal irmos até o fim para ver se no fim tem mesmo uma luz e um túnel? Estou aqui, sozinho entre alguns papéis, tentando escrever uma declaração daquele sentimento – como é mesmo o nome? Sem cafonices e aberrações. Mas não tem jeito. O acaso é repleto de clichês, como os meus. Acho que sou antigo. Aquele chamado amor. Venha ser minha sendo você.

Deteriour parvum sanctificare amor solet.


* Imagem retirada do site Deviantart.

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