quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A cuidadosa definição do acaso (Parte II)

*
Por Germano Xavier

para ler ao som de Run, do Snow Patrol


Sei que fomos agraciados por surpresas inquestionáveis, inscritas no rotar desse cosmos. Surpresas (coincidências) que não necessariamente nos espantam, pois delas já antevíamos, ou queríamos tanto esta condição em comum, que aqui estamos, um de fronte ao outro nesse momento de nossas vidas. Na verdade nada acontece ao total acaso, nós é que construímos nosso arcabouço nocivo ou nossa tábua para o salto na imensidão azul da vida e de seus caminhos.

Por isso, não me apresento esquivo, não se assuste, de cara tento explicar, ou não. Talvez seja algo com a astrologia e nesse caso a tendência é dar um passo à frente e nunca um passo atrás. Essa nuance, admito, a de que te conheço e te reconheço há muito tempo e mais... e depois de ter sido tão abrupto, eu me recolho pensativo e sem pensar, refletindo se eu não fui rápido demais e com muita sede ao pote. Não. Eu tenho certeza que não. O nosso tempo é agora. É você quem eu quero para mim.

Compartilhamos da vontade de amar, fonte de inspiração, calmaria no entrevero, falsa sustentação e real alicerce, ou momentânea e sempiterna sanha febril que serve de impulso para tantos saltos. Eu mirando meu ideal, onde você se apresenta mais que cenário. Você possui ares de muito amor. 

Ao escrever em sua direção, surpreendo-me pensando no movimento dos astros, que te conectaram a mim por fios eletrônicos que eu por vezes sinto ojeriza. Eu aqui e você tão perto, considerando-se as possibilidades latitudinais e longitudinais da esfera terrestre, mas ao mesmo tempo tão inusitado, reconfortante e significativo...

Permita-me uma citação. Trata-se de uma passagem, escrita em uma carta por Rilke, um de meus poetas prediletos, oriunda de leituras tantas, de literaturas que se entrevivem por subjetividades desconexas: 

“É impossível ter uma imagem exaustiva o suficiente da amplidão e das possibilidades da vida. Nenhum destino, nenhuma recusa, nenhuma adversidade é simplesmente sem saída; em algum lugar, o mais denso matagal pode produzir folhas, uma flor, uma fruta. E, em algum lugar, na providência mais extrema de Deus, haverá também um inseto que colherá riqueza dessa flor, ou uma fome a qual essa fruta será bem-vinda. E, se for amarga, terá sido espantosa a pelo menos um olho, ao qual será propiciado prazer e curiosidade pelas formas, cores e frutos do mato cerrado; e, se ela cair, cairá na plenitude do futuro e, em sua decomposição final, contribuirá para torná-lo mais rico, colorido e viçoso”.

Sei reconhecer algo que amo, algo pelo qual me identifico, que me causa um sentimento de várias formas assimiladas, pois as manifestações em mim são físicas e anímicas, meus impulsos sensitivos sempre me falam mais alto e não há melhor forma do que sentir através das palavras, que podem forjar construtos imagéticos de um espectro ainda informe, conduzir a irrealidade à deriva, o que pode ser mais do que real. Mas até este meu suposto pensamento já foi por você desconstruído antes de mim, que falo direto através de meu ser que é seu. Vamos viver de verdade isso? E começo por agora, por ontem, por sempre, podendo ser o mais passional possível, sem ressalvas, minha racionalidade de querer-te inteira. Eu acredito, sim, em tudo que você pensa que eu acredito.


* Imagem retirada do site Deviantart.

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